Meu pequeno país

Sinopse: Burundi, 1992. Gabriel, 10 anos, mora com o pai francês, um empresário, a mãe ruandesa e a irmã caçula, Ana, em um bairro nobre de Bujumbura, onde a maior parte dos moradores são membros de uma comunidade de estrangeiros. Gabriel passa a maior parte do tempo com os amigos e companheiros de aventuras, uma alegre brigada que se ocupa do roubo de mangas dos vizinhos e organiza um comércio clandestino de cigarros Supermatch. Mas essa existência despreocupada é prematura e brutalmente interrompida pela História. Primeiro, Gabriel assiste, impotente, à separação de seus pais; depois, ao início da guerra civil, seguida pela tragédia do genocídio ruandês. Gabriel, que sempre se via apenas como uma criança qualquer, começa a se descobrir mestiço, tútsi, francês. Com uma leveza e uma elegância raras, Gaël Faye consegue evocar os tormentos e as inquietações de um menino preso no mecanismo inexorável da História, tentando lidar com eventos que o obrigam a amadurecer mais cedo do que o previsto. São sensações que o autor conhece pessoalmente, o que torna este primeiro romance — repleto de momentos trágicos e de humor, de luzes e sombras — ainda mais excepcional


Título: Meu pequeno país
Autor: Gaël Faye
Ano: 2019
Editora: Rádio Londres
Número de páginas: 190
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Crítica:
     Olá pessoal, hoje eu vim conversar com você sobre o primeiro livro que li do Clube da Rádio Londres e só posso dizer que foi um excelente começo.
      O livro se passa na África, mais especificamente no país Burundi, que faz divisa com Ruanda, Tanzânia e República Democrática do Congo, e está entre os países mais pobres do mundo, em 2013 foi classificado com décimo menor IDH. Bujumbura é a cidade mais populosa.
     Para inserir vocês um pouquinho na narrativa vou fazer uma breve contextualização da história desse país. Em 1885  ocorre a Conferência de Berlim, nela o Burundi fica entregue a Alemanha, em 1906 a chegada dos colonos agrava a rivalidade entre a maioria hutu e a minoria tutsi.
     As diferença entre tutsis e hutus era mínima e foi criada pelos multiculturalistas belgas em uma tentativa de exercer melhor controle sobre a região através de um sistema de castas sociais. Os tutsis ganham então status de elite e ganham acesso exclusivo a educação.
     Após a 1ª Guerra, Burundi é unificada a Ruanda e ficam sob tutela da Bélgica, que mantém os privilégios tutsis. Em 1946 o país passa para tutela da Bélgica e só em 1962 ele consegue sua independência, porém sob uma monarquia tutsi.
   Em 1965 uma rebelião hutu é esmagada, e em 1966 ocorre um golpe de estado. As décadas seguintes são marcadas por uma sucessão de golpes de estado, intrigas entre os tutsis e perseguição aos hutus, milhões de mortes ocorrem nessa época.
Frodebu. Uprona. Eram esses os nomes dos dois grandes partidos políticos que disputavam as eleições presidenciais de 1º de junho de 1993, depois de trinta anos de um reinado sem interrupção do Uprona. Só escutávamos essas duas palavras o dia inteiro. No rádio, na televisão, na boca dos adultos. Como papai não queria que nos metêssemos em política, eu escutava quando discutiam o assunto em outros lugares.

    Em 1993, oficiais tutsis fuzilam o primeiro presidente eleito democraticamente, os hutus reagem e se inicia a guerra civil que dura até hoje. Em 1994 ocorre um massacre em Ruanda com mais de 800 mil mortes em apenas 100 dias de guerra e onde 70% da população tutsi foi dizimada em resposta ao assassinato do presidente.
    E é no meio dessa confusão que conhecemos Gabriel, o narrador personagem do livro do rapper e escritor Gael Faye. O autor nos coloca no meio dessa guerra civil e do genocídio de Ruanda, vendo tudo acontecer pelos olhos de um menino de 10 anos de idade. E mesmo sem conseguir entender muito bem o que acontecia, pois sua família não queria que nem ele, nem sua irmã perdessem a infância pelas mazelas da guerra, conseguimos viver e entender um pouquinho o que aquele povo estava enfrentando.

Os homens dessa região eram parecidos com esta terra. Sob a calma aparente, por trás da fachada de sorrisos e grandes discursos de otimismo, as forças subterrâneas ocultas, trabalhavam continuamente, fomentando projetos de violência e de destruição que retornavam em períodos sucessivos como os ventos ruins: 1965, 1972, 1988. Um aspecto lúgubre se apresentava-se em períodos regulares para lembrar aos homens que a paz não passa de um breve intervalo entre duas guerras. Essa lava venenosa, esse espesso fluxo de sangue, estava de novo prestes a subir à superfície. Ainda não sabíamos, mas a hora da guerra tinha acabado de soar e a noite soltaria sua horda de hienas e canídeos.

     E é quando a guerra chega a sua rua e atinge em cheio a sua família que ele finalmente compreende o que estava acontecendo. Gaby vê, então, todos os que ama começarem a sofrer as consequências dessa guerra civil e se depara com uma grande dúvida: tomar ou não o partido de algum lado dessa guerra?

Quando deixamos um lugar, temos tempo de nos despedir das pessoas, das coisas e dos lugares que um dia amamos. Eu não deixei o país; eu fugi dele. Deixei a porta escancarada e parti, sem olhar para trás. Só me recordo da mãozinha de Papai acenando da varanda do aeroporto de Bujumbura.

     Só posso dizer que esse é um livro mega recomendado e uma das melhores leituras desse ano. Um livro que nos coloca dentro da realidade de um país que não é muito conhecido por nós brasileiros, mas que precisa de muita atenção do mundo todo.
     Esse para mim foi um livro 5 estrelas e favorito da vida. Se você já leu me conta aqui o que você achou... fico curiosa para saber sua opinião.
     Beijos e até a próxima resenha...